13 março 2016

Quando uma cor gera ódio




Esclareço: não sou filiada a nenhum partido, não tenho uma cor de preferência, gosto de todas.

Domingo, dia 13, manhã de sol, indo à academia fazer musculação, vestindo calça preta, tênis roxo, sacolão roxo, camisão roxo, bata vermelha por baixo, óculos escuro apenas. Fui hostilizada em uma caminhada de 10 minutos na ida e na volta à minha residência por gente vestida de "verde e amarelo". 

Alguns com a bandeira brasileira enrolada no traseiro (liberdades que só a democracia via voto permite...) indo à passeata.

Um homem branco, alto, com mulher e filho pequeno fez sinal da cruz diante da minha fresta visível vermelha. Achei tosco, estranho, a mulher só deu um risinho... Continuei minha caminhada sem entender. 

Outro homem branco, alto, com mesmo tipo de família nuclear, disse bem baixinho, quase tocando a minha face: “eu sei que aí em baixo [apontando para o meu peito] tem uma estrelinha...”. Na verdade, por acaso, eu estava com top verde com listinha amarela, mas ele não merecia conferir. 

Comecei a entender, comecei a ressentir, só um pedacinho de cor vermelha estava irritando essas figuras que nem me conheciam, querendo me julgar pela aparência de uma cor vermelha... 

Na volta, um rapaz gordinho, que deveria praticar atividade física com amigas que estavam vestidas com camisas da CBF e vuvuzelas disse: “essa aí é PT, que eu sei!”. Uma senhorinha de cabelinho branco no meio de seu grupinho com um cartazinho marrom de papelão xingando a presidenta falou: “lá vai um lixo!”. Bem ao meu lado, uma mãe loura oxigenada deu um grito para o filho de uns 6 anos que ia quase esbarrando em mim, a criança não entendeu, nem o que ela fazia. Ainda bem: ele não tem culpa pela mãe que tem. 

O que eu fiz? 

Nada de nada, apenas ignorei, e senti pela primeira vez na carne, como se sente uma pessoa de cor diferente, como o negro (afrodescendente), o amarelo (japonês), e o vermelho (índio) ... 

Lamentável ... 

Já vimos esse filme antes. Os museus e memoriais estão repletos de fotos e testemunhos. 

Mesmo assim, a "politização" do ódio continua, a qualquer cor que não seja a sua, a qualquer preferência que não seja a sua, a qualquer ideia que não seja a sua, a qualquer religião que não seja a sua.

Logo, logo, teremos brasileiros, como eu, tendo que usar retalhos de cores diferentes, indicando provável cor, gênero, região de nascimento e religião, para sermos hostilizados, marginalizados na rua e nas instituições. Provavelmente até nossas casas amanhecerão com uma estrelinha ou triângulo... 

Fico com pena das criancinhas, perdendo seus verdadeiros heróis: coitado do super-homem, não poderá mais usar cueca e capa vermelha; homem aranha, só cor azul; bombeiros, deverão mudar a cor. Meninas, não usem vermelho no cabelo; boneca moranguinho, só na gaveta ou na caixa! E a natureza? Arco-íris precisa ser refeito. 

O que eu vou continuar fazendo? Usarei todas as cores. Ignorarei os ignorantes. Meu voto é na urna. Ditadura e golpe nunca mais!

Esta é a minha opinião e gritaremos.

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